Leitura: 3 min

A arquitetura invisível de Dogville

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O enredo

Divido em 10 partes, o filme dirigido por Lars Von Trier se passa em Dogville, uma cidade pequena situada no fim de uma estrada. Uma mulher chamada Grace chega à cidade e parece estar fugindo de algo. Os moradores de Dogville logo se mostram pessoas acolhedoras e do bem, apenas com alguns defeitos. Tom, um dos moradores, acredita que a chegada de uma forasteira à cidade pode fazer reacender a compaixão e companheirismo dos habitantes, que se encontram muito preocupados com os afazeres diários e não têm a oportunidade de evoluírem como seres humanos.

Sendo assim, os moradores decidem ajuda-la em troca de favores domésticos. E logo Grace começa e trabalhar duro pra se manter na cidade e conquistar cada vez mais os moradores.

As coisas começam a ficar estranhas quando policiais chegam à cidade com um cartaz de “Procurada” com a foto de Grace. Gerando inquietação, os moradores acreditam que agora, como uma fora da lei, Grace aumenta sua dívida, e precisará se esforçar ainda mais pra ficar.

No decorrer da narrativa, Grace passa a ser vista como uma devedora, que é obrigada a aceitar tudo sem revidar, em razão da sua condição de fugitiva. Dessa forma, passa a ser tratada como escrava, sendo obrigada a fazer diversas tarefas e também como escrava sexual, sendo estuprada pelos homens da cidade.

O cenário

O ponto de maior interesse visual do filme é o cenário. O espaço conta com objetos dispostos, como sofás, o sino da igreja e outros móveis, mas as paredes são invisíveis, e se resumem a uma planta baixa desenhada no chão. Lars Von Trier causa bastante estranheza num primeiro momento, uma vez que dentro da narrativa esse fato parece ser ignorado, nos chamando atenção para o que o diretor quer comunicar ao espectador.

Bordwell e Thompson, autores do livro “A arte do Cinema”, falam que elementos usados em cena também se destacam pela sua raridade ou ausência, mas esse é um conceito que não precisa ser tão levado em conta aqui, uma vez que a “ausência” das paredes se destaca em razão de sua própria natureza. É perceptível de forma imediata ao espectador porque foge do habitual.

A arquitetura do filme, que eu não chamaria de inexistente, mas de invisível por gritar significados em diversas camadas, apontam para o que Lars Von Trier deseja falar: pessoas e seus próprios interesses. Ao longo da história da arte, o ser humano buscou incessantemente uma reprodução do mundo real, o retrato humano perfeito. Em Dogville, o diretor reproduz o retrato interior de uma faceta desprezível da natureza humana: pessoas sujas, interesseiras e egoístas, ou seja, pessoas sem fachadas, tal qual como suas casas. O diretor nos chama atenção a isso através da arquitetura invisível: a transparência e exposição que o cenário nos apresenta é uma analogia à transparência do ser humano, visto de perto, como realmente é, sem vedações. Sujo, interesseiro e mesquinho.

A arquitetura da cidade de Dogville age como um agente revelador do pior lado humano e por isso não é inexistente, mas presente pra chamar a atenção para o que realmente importa na narrativa.

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