Nos primórdios do cinema o figurino assumia um papel predominantemente estético, sendo pouco explorado como um recurso de linguagem mais expressivo.
Foi no final do século XX que ele ganhou maior expressividade, revelando por exemplo, traços da personalidade de um personagem.
Marcel Martin é um autor que divide o figurino cinematográfico em duas categorias simples: realistas e simbólicos. Figurinos realistas se preocupam em relevar o recorte de tempo em que se passa a narrativa. Já os simbólicos, como sugestivo do nome, se preocupam em transmitir simbolismos, assim como contribuir com efeitos dramáticos.
Exemplos de figurinos simbólicos podem ser encontrados personagens super-heróis, que carregam nos seus figurinos muitas simbologias, sem se preocupar com o recorte temporal em que se passa o enredo.
Mas nem sempre um figurino vai se encaixar em apenas uma dessas definições. Em “Me aceita como eu sou, quem quer que eu seja”, terceiro episódio da série “Modern Love”, o figurino ganha características realistas e ao mesmo tempo simbólicas.
Simultaneamente revelando o recorte temporal em que se passa o enredo, o figurino traduz também o estado interior da personagem. Diagnosticada com transtorno bipolar, a protagonista uma hora encontra-se em estado de êxtase, felicidade e euforia, e num outro momento entra em completo estado de desânimo e tristeza.
A composição da imagem separa esses dois momentos por meio de vários elementos. Nos momentos de bem-estar, o figurino de Lexi apresenta mais cores e brilhos, assim como os cenários e locações, como um supermercado com frutas coloridas e outros ambientes com uma paleta de cores mais variada.
Em contraste à essas imagens, nos momentos de tristeza o figurino de Lexi apresenta tons fechados, cortes folgados e sem formas, sendo complementados por uma cenografia com menos destaque e tons mais fechados.
Em alguns momentos Lexi usa o mesmo figurino e os objetos de cena traduzem seu estado interior através de suas cores.
Modern Love é uma série incrível, com episódios curtos que contam histórias reais. E esse é o meu favorito.
Vale muito a pena!